Num mundo cada vez mais consciente dos desafios ambientais, a sustentabilidade tornou-se uma prioridade global. Os Objetivos de desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) definem um roteiro para um futuro mais sustentável, abordando questões que vão desde a pobreza até às alterações climáticas. Com a tendência crescente do aumento da população mundial, a pressão sobre os sistemas agroalimentares é cada vez maior.
A transformação dos sistemas agroalimentares continua a ser um dos pontos centrais para alcançar os ODS definidos pela ONU. O sistema agroalimentar global é complexo, com numerosos recursos que dependem entre si e compreende muitos intervenientes e processos, o que torna mais difícil a previsão de determinados eventos. Toda esta complexidade afeta as necessidades a longo prazo das populações atuais e futuras no acesso suficiente, acessível, seguro e nutritivo aos alimentos. Em todo o mundo os alimentos são mantidos seguros pelos esforços coletivos de todos os intervenientes relevantes na indústria alimentar e na cadeia de abastecimento: autoridades nacionais, que estabelecem diretrizes e padrões, bem como os produtores de alimentos, que adotam boas práticas de manipulação de alimentos.
O ano de 2015 ficará na história como o ano da definição da Agenda 2030, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. É uma agenda alargada e ambiciosa que aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável (sócio, económico e ambiental) e que visa promover a paz, a justiça e instituições eficazes.
Os ODS foram desenvolvidos a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que vigoraram entre 2000 e 2015. Estes ODS têm como base os progressos e lições aprendidos com os 8 ODM e são fruto do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo. O relatório dos ODM concluiu que o esforço de 15 anos para alcançar oito metas ambiciosas definidas na Declaração do Milénio, em 2000, teve um grande sucesso a nível global, mas ainda há muito mais a fazer. E, por isso os ODS pretendem ir mais longe e desencadear novas parcerias para o efeito. Estes pretendem ser uma visão comum para a humanidade, um contrato entre os líderes mundiais e os povos, sendo esta uma lista de coisas a fazer em nome dos povos e do planeta.
Em 2015, a ONU lançou a Agenda 2030, adotada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas, que entrou oficialmente em vigor em 2016. Os 17 objetivos definidos e as 169 metas procuram identificar problemas e superar desafios que têm eco em todos os países do mundo. Os objetivos são interdependentes e indivisíveis e demonstram claramente o que é a procura pela sustentabilidade. Aqui são definidas as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável global para 2030 e procura a mobilização de esforços globais em volta de um conjunto de objetivos e metas comuns.
Os ODS refletem que a erradicação da pobreza e outras privações devem ser acompanhadas por estratégias que melhorem o acesso à saúde e educação, reduzam a desigualdade e estimulem o crescimento económico, ao mesmo tempo que se combate as alterações climáticas e se adotam estratégias de preservação dos ecossistemas.
O grande desafio passa pela dificuldade do modelo atual de desenvolvimento em dar resposta a um crescimento populacional ímpar na História da Humanidade. Isto porque, se por um lado o progresso do modelo atual melhorou as condições de vida da maioria das pessoas, por outro lado também foi capaz de alavancar o crescimento populacional. Esta aceleração no crescimento populacional teve um forte impacto quer na degradação da biosfera, quer na crise climática que atualmente assistimos e, por outro lado no aumento das desigualdades e surgimento de novos fenómenos de exclusão e mal-estar social. A pandemia COVID-19 é um alerta sem precedentes, que expôs as profundas desigualdades e precisamente as falhas do sistema que provocam sofrimento humano e a destabilização da economia global.
As prioridades e aspirações dos ODS para 2030 foram definidas com base em áreas que afetam a qualidade de vida de todos os cidadãos do mundo e das gerações futuras. Estes constituem uma oportunidade única e necessária no apoio ao crescimento sustentável, regenerativo e inclusivo, sem o qual será impossível dar resposta à emergência climática, à perda de biodiversidade e às desigualdades e assimetrias sociais.
Considera-se que a sua adoção seja capaz de desencadear inovação, crescimento económico e desenvolvimento a uma escala sem precedentes.
Estes objetivos globais assumidos pelos 193 países das Nações Unidas têm como ambição “não deixar ninguém para trás”, através do estabelecimento de uma linguagem comum para todos os stakeholders, fixam metas de sustentabilidade, com foco em áreas críticas para a humanidade, e estruturam-se em torno de 5 Princípios: Planeta, Pessoas, Prosperidade, Paz e Parcerias.
Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias são os 5 pilares dos ODS e são um plano de ação que procura fortalecer a paz universal e erradicar a pobreza em todas as suas formas e dimensões. É uma proposta para as pessoas, o planeta e a prosperidade. O lema é: “Ninguém pode ficar de fora!”, por isso foram construídos e contemplam cinco áreas com uma importância decisiva para a humanidade e o planeta:
É necessária determinação para acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e dimensões, e garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade, num ambiente saudável.
Para que o planeta possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras, é fundamental protegê-lo da degradação, através de práticas de consumo e produção sustentáveis, recorrendo a uma gestão sustentável dos recursos naturais e à implementação de medidas no combate às alterações climáticas.
Pretende-se assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de uma vida próspera e de plena realização pessoal, e que o progresso económico, social e tecnológico ocorra em harmonia com a natureza.
Não pode existir desenvolvimento sustentável sem paz e não há paz sem desenvolvimento sustentável, e para isso é necessário promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas que estão livres do medo e da violência.
Com base num espírito de solidariedade global reforçada, concentrada, especialmente, nas necessidades dos mais pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os países, todas as partes interessadas e todas as pessoas, pretende-se mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda através de uma parceria global para o desenvolvimento sustentável revitalizado.
Segundo o Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável de 2023, o mundo está significativamente atrasado na realização desses objetivos, o que ameaça causar crises prolongadas e incertezas devido à persistência da pobreza, desigualdade, fome, doenças, conflitos e desastres. A implementação lenta e a confluência de crises, que incluem a pandemia COVID-19 provocaram retrocessos em muitos dos ODS, como por exemplo a erradicação da pobreza, segurança dos alimentos, ação climática e proteção da biodiversidade. Para além disso, os conflitos armados, instabilidades políticas agravaram os desafios globais, sendo por isso um obstáculo para o progresso em direção à concretização dos ODS. O relatório destaca a necessidade urgente de ações integradas e aceleradas para alcançar os ODS e abordar os desafios enfrentados pelo mundo.
O Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável de 2023 analisa as projeções dos cenários existentes sobre o progresso em direção aos ODS através de diferentes abordagens. No geral, os cenários indicam que, manter as coisas tal como estão até aqui, os ODS permanecerão fora do alcance até 2030 ou mesmo até 2050. No entanto, cenários mais ambiciosos mostram que ações decisivas podem proporcionar ganhos significativos até 2030. Para ir ao encontro dos objetivos é necessário adotar uma abordagem integrada e coerente focada em seis pontos de entrada para a transformação:
O relatório destacada a importância de cinco alavancas para promover a transformação em cada ponto de entrada:
São necessárias mudanças-chave em cada ponto de entrada para acelerar o progresso em direção aos ODS, juntamente com exemplos de políticas, finanças, tecnologias e mudanças comportamentais que podem habilitar essas transformações. No entanto, no relatório são identificados impedimentos comuns, como lacunas de governança, financiamento inadequado e resistência à mudança, que podem prejudicar os esforços de transformação. A compreensão desses desafios e a implementação de estratégias adequadas são essenciais para avançar em direção aos ODS.
Portugal teve um papel ativo na implementação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Através da apresentação de forma voluntária de um relatório nacional sobre a implementação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, comprovou as ações levadas a cabo a nível nacional para atingir metas relativamente a cada um dos ODS.
Segundo este relatório, Portugal materializou nos ODS 4 (Educação de Qualidade), ODS 5 (Igualdade de Género), ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestruturas), ODS 10 (Reduzir as Desigualdades), ODS 13 (Ação Climática) e ODS 14 (Proteger a Vida Marinha) as suas prioridades estratégicas na implementação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.
Em 2022, o relatório da ONU realizado por cientistas independentes destacou Portugal como um dos países mais sustentáveis do mundo.
Como vimos até aqui todos nós temos um papel ativo para a concretização dos ODS, sendo que os estabelecimentos do setor alimentar não são exceção. Os restaurantes para além da garantia da segurança dos alimentos entregues, desempenham também um papel vital na promoção da sustentabilidade.
No setor da hotelaria e restauração, é fundamental alinhar os esforços com estes objetivos globais. Apresentamos cinco dicas essenciais para tornar um estabelecimento alimentar mais sustentável e contribuir assim para a realização dos ODS da ONU.
Ao adotar práticas mais ecológicas e socialmente responsáveis o seu estabelecimento estará a contribuir para a redução do impacto ambiental, ao mesmo tempo que promove um mundo mais justo e equitativo, quer em Portugal, quer além-fronteiras.
Em primeiro lugar é importante compreender o impacto ambiental do seu estabelecimento. Pelo que é necessário fazer uma avaliação do seu estabelecimento para identificar potenciais áreas de melhoria, por exemplo no que toca ao consumo energético, desperdício de alimentos, gestão de resíduos e consumo de água. Esta análise permitirá definir metas no caminho da redução e eficácia.
O desperdício de alimentos é um problema global e os estabelecimentos do setor alimentar representam um papel importante na redução desta problemática. Fazer uma revisão da sua ementa e otimizar a gestão dos ingredientes, com o intuito de minimizar ou até mesmo evitar desperdícios. Aqui pode também optar por definir parcerias com instituições locais para doar alimentos não utilizados ou distribui-los ao fim do dia a um preço inferior. Esta prática para além de sustentável pode gerar também economias suplementares significativas.
A digitalização dos processos ajuda a melhorar a eficácia operacional e a sustentabilidade. Considerar monitorizar o sistema HACCP no seu estabelecimento com recurso a ferramentas digitais é uma das opções possíveis. Além disso, esta é uma ferramenta que o ajudará a garantir da segurança dos alimentos, a reduzir o uso de papel e a minimizar os erros humanos associados a registos.
Educar a sua equipa a fazer uma boa gestão de resíduos, sensibilizá-la sobre boas práticas de reciclagem e compostagem e envolver os seus clientes nesta prática, irá permitir uma gestão de resíduos eficiente.
Garantir a eficiência energética e a conservação de água são práticas que contribuem para a sustentabilidade do estabelecimento. Substituir as lâmpadas tradicionais por LED’s, instalar sensores de luz, utilizar equipamentos energeticamente eficientes. Promover uma cultura de utilização responsável da água entre a equipa e os clientes, são exemplos de iniciativas que promovem práticas de uso responsáveis dos recursos.
Implementar estas dicas, irá ajudar o seu estabelecimento a percorrer o caminho certo para uma operação mais sustentável e a contribuir para um ambiente mais limpo e saudável. Além disso, conseguirá captar clientes conscientes do seu papel e cientes da sua responsabilidade ambiental, o que poderá ser um impulsionador do sucesso do seu estabelecimento.
Ao investir na sustentabilidade está a investir também no futuro. Esperemos que estas etapas o inspirem a adotar práticas mais sustentáveis no seu estabelecimento.
A SARA HACCP é uma ferramenta tecnológica que pretende ajudar as empresas do setor alimentar a desmaterializar os processos e registos do HACCP.
Para uma demonstração aceda aos planos SARA HACCP.
Este artigo foi escrito em parceria com a DIG-IN®
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Fonte (DIG-IN)