A União Europeia declarou 2025 como o ano europeu da educação para a cidadania digital, com
o objetivo de promover a importância da educação digital como ferramenta essencial para
capacitar toda a sociedade no mundo digital contemporâneo. Esta é uma celebração que nos
convida a refletir sobre o impacto da tecnologia na sociedade moderna. Hoje em dia, a
digitalização está a revolucionar todos os setores económicos, onde se inclui o setor alimentar.
Esta transformação tem implicações significativas na segurança dos alimentos, representando
desafios e oportunidades para profissionais e consumidores.
Com a digitalização, surgem novas ferramentas e sistemas que permitem melhorar a eficiência,
a transparência e a rastreabilidade em toda a cadeia de abastecimento alimentar. Desde a
produção até à distribuição e venda, a tecnologia está a ser utilizada para monitorizar e controlar
os processos e, assim garantir a qualidade e segurança dos alimentos.
Uma das principais formas como a digitalização apoia a segurança dos alimentos é através da
implementação de sistemas de gestão da qualidade e segurança dos alimentos baseados na
tecnologia. Estes sistemas permitem às empresas acompanhar e registar todos os processos e
procedimentos relacionados com a produção e distribuição de alimentos, desde o controlo de
matérias-primas até ao armazenamento e transporte e, deste modo garantir o cumprimento das
normas e regulamentos de segurança dos alimentos.
A digitalização também facilita a implementação de programas de rastreabilidade, que
permitem acompanhar o percurso dos alimentos ao longo de toda a cadeia de abastecimento.
Com sistemas de rastreabilidade digital, é possível identificar a origem de um produto, rastrear
todos os passos desde a produção até ao consumidor final. Isto é crucial em caso de recolha de
produtos ou surtos de doenças alimentares e, assim permitir uma resposta rápida e eficaz para
proteger a saúde dos consumidores.
Além disso, a implementação e utilização eficaz da tecnologia no setor alimentar requer uma
formação e capacitação adequadas dos profissionais. Muitas vezes, os trabalhadores podem
enfrentar dificuldades na adaptação a novos sistemas e tecnologias, o que pode comprometer
a eficácia dos programas de segurança dos alimentos. É essencial investir em formação e
desenvolvimento de competências para garantir que os profissionais estejam preparados para
utilizar as ferramentas digitais de forma eficaz e segura.
Outro desafio importante é garantir a acessibilidade e equidade na adoção da tecnologia no
setor alimentar. Pequenas e médias empresas podem enfrentar barreiras financeiras e
tecnológicas na implementação de sistemas digitais, o que pode criar disparidades na segurança
dos alimentos entre diferentes players do mercado. É necessário promover políticas e iniciativas
que incentivem a adoção generalizada da tecnologia, garantindo que todos os intervenientes na
cadeia de abastecimento tenham acesso às ferramentas necessárias para garantir a segurança
dos alimentos.
O papel do Programa Década Digital da União Europeia
A Comissão Europeia está determinada a fazer desta década uma Década Digital.
O Programa Década Digital da União Europeia delineia objetivos e metas concretas para 2030,
com o objetivo de orientar a transformação digital da Europa. Este programa abrange áreas-
chave que incluem habilidades digitais, infraestruturas seguras e sustentáveis, transformação
digital das empresas e digitalização dos serviços públicos.
No que diz respeito às habilidades digitais, o programa visa garantir que mais de 20 milhões de
especialistas em TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) estejam disponíveis até 2030,
com uma convergência de género significativa. Além disso, pretende-se que pelo menos 80% da
população europeia possua competências digitais básicas.
A infraestrutura digital também desempenha um papel crucial na segurança dos alimentos. O
programa visa garantir que todos tenham acesso a conectividade de alta velocidade, o que inclui
a cobertura de gigabit para todos os cidadãos. A digitalização está a transformar a forma como
as empresas no setor alimentar operam. O objetivo é que até 2030, 75% das empresas da UE
utilizem tecnologias como Cloud, IA ou Big Data. Além disso, é esperado que o número de
empresas inovadoras, onde se incluem startups de tecnologia alimentar, duplique e, dessa
forma contribuir para o crescimento económico e a competitividade da Europa.
A digitalização dos serviços públicos, onde inclui serviços de saúde e identidade digital, também
é uma prioridade. O objetivo é que até 2030, todos os serviços públicos-chave estejam
disponíveis online, assim como os registos médicos eletrónicos para todos os cidadãos da UE.
Além disso, está previsto que todos os cidadãos tenham acesso a uma identidade digital.
Para alcançar estes objetivos ambiciosos, a Comissão Europeia estabeleceu um ciclo anual de
cooperação que envolve a monitorização transparente e partilhada do progresso através do
Índice da Economia e Sociedade Digitais (IDES). Este mecanismo de cooperação também inclui
relatórios anuais de progresso e recomendações de ação da Comissão, bem como estratégias
roadmaps digitais atualizadas a cada dois anos pelos Estados-Membros.
A implementação destas iniciativas digitais não deve ser feita à custa dos direitos dos cidadãos,
por isso em dezembro de 2022, foi assinada a Declaração Europeia sobre Direitos e Princípios
Digitais, o que reafirma o compromisso da UE com uma transformação digital segura e
sustentável centrada nas pessoas.
Os princípios desta declaração incluem a proteção dos direitos dos cidadãos, a promoção de um
ambiente online justo e seguro, a garantia da segurança e privacidade dos utilizadores, a
promoção da inclusão digital e a participação democrática dos cidadãos. Estes princípios visam
assegurar que a transformação digital beneficie a todos os cidadãos da EU ao mesmo tempo que
promove os valores fundamentais da União.
O ano de 2025 é uma oportunidade para refletir sobre o papel da tecnologia na transformação
do setor alimentar e os desafios enfrentados pelos profissionais na utilização da tecnologia para
garantir a segurança dos alimentos. Embora a digitalização ofereça oportunidades incríveis para
melhorar a eficiência e a transparência na cadeia de abastecimento alimentar, é essencial
abordar os desafios relacionados com a cibersegurança, formação de pessoal e equidade na
adoção da tecnologia para garantir que todos os consumidores tenham acesso a alimentos
seguros e de qualidade.