Existem diversos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes de trabalho, a obesidade, a falta de atenção e foco no trabalho, a fadiga e o cansaço, são fatores que na sua maioria não são fáceis de controlar pelas empresas, mas que acabam por contribuir para os dados referentes à sinistralidade laboral. Diversos estudos relatam associações entre a obesidade e a ocorrência de lesões causadas por acidentes de trabalho. No estudo realizado pela NHIS (National Health Interview Survey), foi estimada a prevalência de lesões no local de trabalho e a associação entre obesidade e lesões no local de trabalho em uma amostra representativa da comunidade de trabalhadores americanos. Concluindo que os trabalhadores com excesso de peso e obesos apresentaram 25% a 68% mais chances de sofrer lesões do que os trabalhadores com peso normal. Outros estudos observacionais estimaram que até 13% das lesões ocorridas no local de trabalho podem ser atribuídas à fadiga.
A falta de nutrientes essenciais pode afetar a capacidade cognitiva, prejudicando a capacidade de concentração e tomada de decisões, o que pode ser perigoso durante a operação de máquinas e equipamentos. Além disso uma nutrição adequada fornece a energia necessária para executar as tarefas diárias. A nutrição é a ciência que estuda as relações entre os alimentos e nutrientes ingeridos pelo ser humano e possíveis estados de saúde e doença. As ciências da nutrição incluem também o estudo do comportamento e fatores sociais relacionados com as escolhas alimentares. A alimentação dos trabalhadores de uma determinada atividade tem um papel crucial na sua saúde e desenvolvimento. Uma alimentação adequada promove sistemas imunitários mais capazes e atua na prevenção de patologias. Uma boa alimentação permite alcançar e manter uma composição corporal desejável e um alto potencial de trabalho físico e mental, assim como influencia na longevidade do ser humano. Ajudar os trabalhadores a desenvolver um estilo de alimentação saudável e a fazer escolhas alimentares seguras e saudáveis que atendam às suas necessidades individuais traz ganhos evidentes para a melhoria da saúde e bem-estar dos trabalhadores.
Consumir uma dieta saudável ao longo da vida ajuda a prevenir a desnutrição em todas as suas formas, bem como uma série de patologias e condições. No entanto, o aumento da produção de alimentos processados, a rápida urbanização e mudanças no estilo de vida levaram a uma mudança nos padrões alimentares. As pessoas consomem mais alimentos ricos em energia, gorduras, açúcares livres e sal, e muitas pessoas não comem frutas, vegetais e outras fibras dietéticas suficientes, como grãos integrais. A composição exata de uma dieta diversificada, equilibrada e saudável varia de acordo com as características individuais (como a idade, género, estilo de vida e o grau de atividade física e mental), contexto cultural, alimentos disponíveis localmente e hábitos alimentares.
Uma dieta saudável deve ser variada, inclui frutas, legumes, leguminosas, nozes e grãos integrais. Quanto à ingestão de açúcares livres, esta deve ser moderada, os açúcares livres são todos os açúcares adicionados aos alimentos ou bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou consumidor, bem como os açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes, sumos de frutas e concentrados de sucos de frutas. Por outro lado, também devem fazer parte da alimentação as gorduras insaturadas (encontradas em peixes, abacate e nozes e nos óleos de girassol, soja e azeite), que são preferíveis às gorduras saturadas (encontradas em carnes gordurosas, manteiga, óleo de palma e coco, queijo e banha), claro que em proporções adequadas. Já as gorduras trans de todos os tipos, incluindo as produzidas industrialmente (encontradas em alimentos assados e fritos e alimentos pré-embalados, como pizza congelada, tortas, biscoitos, bolachas, wafers e óleos de cozinha e pastas) e gorduras trans de ruminantes (encontradas em carnes e laticínios de animais ruminantes, como vacas, ovelhas e cabras e camelos) devem ser ingeridas de forma bastante moderada. Em particular, as gorduras trans produzidas industrialmente não fazem parte de uma dieta saudável e devem ser evitadas.
Quanto ao sal, a ingestão diária deve ser equivalente a cerca de uma colher de chá e este deve ser, preferencialmente, sal iodado. Já no que se refere à água é importante incentivar o seu consumo, a água é fundamental para uma alimentação saudável. O consumo de água aumenta a energia e alivia a fadiga, uma vez que o cérebro é constituído maioritariamente por água, bebê-la ajuda-o a pensar, a concentrar-se e a estar mais alerta. Assim como elimina as toxinas e os resíduos através do suor e da urina, o que reduz o risco de pedras nos rins e de infeções do trato urinário e também ajuda na digestão, uma vez que a água é essencial para digerir os alimentos e evita a obstipação. No entanto é necessário ter em consideração que a água armazenada em garrafas de plástico também pode trazer problemas, pois as substâncias do plástico das garrafas de água podem migrar para a água devido à exposição solar e à reutilização das embalagens.
Para aumentar a rentabilidade no desempenho das tarefas afetas a cada atividade é importante incentivar os trabalhadores a realizar várias refeições ao longo do dia, como tomar um bom pequeno-almoço, realizar o lanche da manhã, um almoço equilibrado, lanche da tarde e jantar, assim como ingerir água ao longo do dia.
A nutrição e a segurança dos alimentos estão indissociavelmente ligadas. Estima-se que 600 milhões de pessoas, quase 1 em cada 10 pessoas no mundo, adoecem depois de ingerirem alimentos contaminados e 420 000 morrem todos os anos, o que resulta na perda de 33 milhões de anos de vida saudável. As doenças de origem alimentar são geralmente de natureza infeciosa ou tóxica e são causadas por bactérias, vírus, parasitas ou substâncias químicas que entram no organismo através de alimentos contaminados. A contaminação química pode levar a envenenamento agudo ou a doenças de longa duração, como o cancro. Muitas doenças de origem alimentar podem levar a incapacidades prolongadas e até à morte. Educar os trabalhadores sobre a importância da manipulação segura de alimentos e sobre a forma de reduzir os riscos associados às doenças de origem alimentar é também uma forma de promover a saúde dos trabalhadores.
É importante incentivar os trabalhadores a fazerem boas escolhas alimentares, tanto na alimentação fora de casa, como na alimentação proveniente de casa. Na alimentação proveniente de casa existe maior controlo, permite ser mais variada e acaba por ser mais económica, no entanto nem todas as atividades profissionais permitem ter uma alimentação que recorre a marmitas produzidas em casa dos trabalhadores.
Quando as refeições dos trabalhadores são realizadas fora de casa é importante selecionar ementas em restaurantes que tenham menos impacto para a saúde, adicionar o peixe às opções alimentares, e neste caso, deve ser complementado com sopa e fruta, assim como realizar refeições intermédias para manter os níveis de energia suficientes para o trabalho. Compreender o tipo de trabalho que é realizado, sedentário ou de esforço, é fundamental para ajustar a alimentação ao gasto de energia requerido por cada atividade profissional. Mas também a segurança dos alimentos deve ser um critério a ter em consideração. É importante escolher restaurantes com boa reputação, higiene e que os estabelecimentos estejam livres de insetos e animais. Deve-se garantir de que os alimentos estejam bem cozidos, especialmente a carne, o peixe e os ovos, assim como evitar comer alimentos crus. Lavar as mãos antes das refeições é uma prática bastante simples e que nunca pode ser esquecida, tal como evitar compartilhar utensílios e pratos com outras pessoas. Se existirem dúvidas sobre a segurança dos alimentos, deve-se questionar o estabelecimento sobre a procedência e preparação dos alimentos, assim como observar se os alimentos são mantidos a temperaturas adequadas e se as mãos do empregado de mesa estão limpas antes de aceitar o prato.
Por outro lado, se os trabalhadores forem incentivados a recorrer a uma alimentação proveniente de casa, é indispensável garantir as condições disponibilizadas nos locais destinados às pausas para as refeições. Os refeitórios devem ser limpos diariamente, devem apresentar um ponto de água para lavagem das mãos antes das refeições, possuir equipamentos de refrigeração e de regeneração, assim como um local de armazenagem de lancheiras. Devem ainda ser incentivadas a implementação de boas práticas de manipulação dos alimentares preparados nas casas dos trabalhadores. Estas práticas devem contemplar a lavagem das mãos antes de preparar os alimentos, confecionar os alimentos completamente e colocar a comida em recipientes fechados hermeticamente e separados por tipo de alimento. Durante o transporte, devem ser utilizadas lancheiras térmicas para manter os alimentos quentes ou frios, dependendo do tipo de alimento. No caso dos alimentos quentes, o intervalo até ao consumo não deve ser superior a duas horas, já no caso dos alimentos frios, devem utilizar bolsas de gelo para manter os alimentos refrigerados e estes devem ser armazenados num frigorifico o mais rápido possível. As marmitas acarretam perigos que devemos estar atentos, tais como a temperatura inadequada, as contaminações cruzadas e a higienização inadequada. É importante relembrar que as lancheiras devem ser limpas diariamente com água quente e detergente, enxaguando bem e deixando-as secar completamente entre os usos.
Em suma, o cumprimento de práticas seguras de preparação e armazenamento de alimentos é essencial para prevenir a contaminação por bactérias e outros agentes patogénicos, que podem causar doenças e afetar a capacidade de trabalho. Uma alimentação saudável pode ajudar a prevenir doenças, como desnutrição, obesidade e diabetes, que podem afetar a capacidade de trabalho. Além de manter os operadores saudáveis e seguros, a nutrição e a segurança dos alimentos também podem melhorar a produtividade, reduzir a fadiga e minimizar os erros causados pela falta de atenção.
Ângela Leal (CEO SARA HACCP Digital) para Revista Segurança