A receção de alimentos é uma das etapas mais importantes no processo de transformação alimentar, tanto na indústria como na restauração. Este momento inicial tem impacto direto na segurança e qualidade dos produtos que chegam à mesa dos clientes. No entanto, para garantir uma gestão eficaz e prevenir problemas, é crucial olhar além da receção em si, considerando também a seleção e qualificação dos fornecedores.
A segurança alimentar começa muito antes dos produtos chegarem ao restaurante. Escolher fornecedores confiáveis deve ser uma prioridade, pois, mesmo que sejam cumpridas todas as boas práticas de receção, se os fornecedores não garantirem a qualidade e a segurança, o resultado final pode estar comprometido.
Por exemplo, no caso dos bivalves, um restaurante pode assegurar que estes chegam a temperaturas adequadas, não são colocados no pavimento e são armazenados imediatamente. Contudo, se os fornecedores não realizarem um controlo rigoroso das áreas de aquacultura ou não implementarem um processo de depuração adequado, o risco de contaminação por norovírus ou outros agentes patogénicos aumenta significativamente.
Em Portugal, é possível acompanhar o estado das áreas de produção de bivalves através do site do IPMA. Adicionalmente, as depuradoras devem implementar o processo de aprovação do Cefas, que apesar se não ser obrigatório é uma garantia de segurança de que o processo de depuração funciona adequadamente. Outra situação está relacionada com a ocorrência sazonal de determinados surtos, neste caso relacionados com o norovirus, é importante solicitar análises aos fornecedores que comprovem a entrega de produtos livres deste agente patogénico, mesmo não sendo um requisito definido pelos diplomas legais.
Receber mercadorias com rigor e atenção é essencial para evitar falhas que possam comprometer a segurança dos alimentos ou causar prejuízos financeiros. Aqui estão algumas boas práticas:
• Definir horários de receção: Produtos frescos e congelados devem ser recebidos em momentos planeados, garantindo a disponibilidade de funcionários para a verificação e armazenamento imediato.
• Verificar condições de transporte: Inspecionar as embalagens, temperaturas e condições de higiene do veículo de transporte.
• Conferir mercadorias: Comparar os produtos entregues com os documentos de transporte, verificando qualidade, quantidade, preço, validade, rotulagem e estado de conservação.
• Registrar a entrada de produtos: Manter um registo detalhado das mercadorias recebidas, incluindo fornecedores, quantidades, preços e destinos dentro do estabelecimento (cozinha, economato, bar, etc.).
• Devolver produtos não conformes: Qualquer mercadoria que não atenda aos requisitos solicitados deve ser rejeitada no momento da receção.
A negligência na receção pode ter consequências graves, como surtos de doenças alimentares, quebra de stocks armazenados ou insatisfação dos clientes. Um caso notório foi o surto de norovírus em 2023, num evento corporativo em França, onde quase 700 pessoas adoeceram devido a falhas nos controlos de segurança alimentar. Evitar situações semelhantes exige não apenas boas práticas de receção, mas também o acompanhamento de todas as etapas da cadeia de abastecimento.
A receção de alimentos é uma etapa crucial na restauração. Não basta garantir que os alimentos sejam armazenados a temperaturas adequadas; é necessário ir mais longe, avaliar fornecedores, estabelecer políticas de compras e assegurar o cumprimento das normas em todas as fases do processo. Este cuidado reflete-se na qualidade e segurança dos pratos servidos, na confiança dos clientes e no sucesso do negócio.
Apostar na segurança alimentar como prioridade é transformar cada entrega num passo para o sucesso do seu restaurante!